09 July 2007

O Sopro da Vida

Na pétala da rosa jaz a gotícula madrugadora da noite conturbada. É testemunha do sacrifício que trilhou as silvas daquilo que era sagrado [ou profano].

Foi no crepúsculo das gélidas nuvens, onde a lua grita a sua luminosidade minguante e das estrelas cavalga, em tons de fogo, o rasgante dos céus.

Na penumbra da floresta negra abrem-se os olhos sonolentos à medida que outros se fecham. Impera o silêncio, cortado aqui e ali pelo som estridente do acordar dos seus habitantes.

Por entre as sombras fugidias projectadas no chão escurecido, surge o reflexo etéreo da Árvore esquecida, a axis mundi. Nela está enclausurada a forma do ser, aquele que nascido do ventre dos deuses, lhe foi retirado o sopro da vida.

Agora é avistado um sinal de existência. Da obscuridade surge a luz intermitente ao som da respiração. Ela é de tal modo intensa que o verde reaparece na escuridão, cegando os olhos ainda sonolentos daqueles que despertavam do torpor diurno.

As protecções reagem contra a libertação: as silvas sufocam a Árvore, a dionaea [uma planta carnívora], coloca-se estrategicamente por forma a investir contra qualquer tentativa de fuga, bem como a Bohun Upas [ou a árvore dos venenos] se prepara para lançar o seu veneno, evitando que o ser se liberte.

Mas o prisioneiro tem aliados e a rosa crava os seus espinhos na árvore venenosa, de forma tão violenta que lhe rasga os troncos, despejando o veneno sobre a dionaea que sucumbe ao contacto directo do veneno.

O ser rasga a única linha de defesa que o separa da liberdade cortando as silvas com as mãos que libertam para o chão o sangue etéreo de um semideus. É desta forma que se liberta o ser e se reúne com os seus, deixando no local da sua clausura, uma poça de sangue que alimenta plantas e animais e devolve a vida à floresta negra…

1 comment:

Anonymous said...

"She was the only earthly love in my life, yet, I never knew, nor ever learned, her name..."

The Name of The Rose

Gostei muito.
Adoro-te
S.